Após três meses de diálogo, a Campanha Cotriguaçu a Caminho da Sustentabilidade foi lançada no dia 20 de novembro, em evento realizado no Salão Paroquial, no município. Durante a programação, realizada entre às 18h e 21h, circularam pelo pavilhão mais de 400 pessoas, entre jovens e adultos. O objetivo é que a partir de março do ano que vem, seja estabelecido um mecanismo de diálogo contínuo entre sociedade civil e poder público, por meio de um fórum, que promova ações voltadas à sustentabilidade local e melhoria da qualidade de vida no município, unindo o equilíbrio dos eixos social, econômico e ambiental.
Ao mesmo tempo, a Campanha lançou em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o Concurso Fotográfico “Meu Olhar sobre o Juruena e seus afluentes”, cujas inscrições já podem ser feitas na sede da secretaria (veja as regras neste link).
Segundo Carolina Jordão, analista de gestão ambiental do Instituto Centro de Vida (ICV), a meta principal da iniciativa é valorizar e multiplicar ações e resultados positivos de práticas sustentáveis já existentes no município. Ao mesmo tempo, promover ações contínuas que sensibilizem a população sobre a importância do uso racional dos recursos naturais.
“A campanha é uma forma de empoderar a sociedade civil para que exerça diretamente a sua cidadania, pautando o poder público e construindo soluções de médio e longo prazos para o desenvolvimento sustentável do município, em que a população tenha sua geração de renda, ao mesmo tempo em que sejam mantidas as áreas de floresta que trazem múltiplos benefícios para a sociedade”, disse.
Dois documentos que norteiam a Campanha são a Carta Cotriguaçu Sempre Verde e o Programa Mato-Grossense de Municípios Sustentáveis, do qual a cidade faz parte, tendo como objetivo também sair da lista do Ministério do Meio Ambiente como um dos municípios que historicamente mais desmatam na Amazônia.
Denise Schutz Freitas, secretária-executiva do Conselho Municipal de Meio Ambiente – CMMA, de Cotriguaçu, apresentou um exemplo positivo em que a sociedade já exerce um papel coparticipativo na execução do projeto Semeando Novos Rumos em Cotriguaçu, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, com apoio e monitoramento do CMMA, financiado pelo BNDES/Fundo Amazônia.
Para Veridiana Vieira, agricultora familiar e extrativista, presidente da Associação de Coletores (as) de Castanha do Brasil do PA Juruena, a campanha dá voz a homens e mulheres do campo. “Um exemplo é possibilitar que mostremos o processo do projeto que estamos discutindo no Conselho da proposta da Lei de Extrativismo, que propõe facilitar o nosso trabalho de forma sustentável”, explicou.
A importância da campanha em incentivar a agricultura familiar e a produção local, através da divulgação da Agroecologia e de suas práticas socioprodutivas, em harmonia com a conservação florestal foi destacada pela agricultora familiar e presidente da Associação dos Produtores Feirantes de Cotriguaçu (Aprofeco), Helena de Jesus Moreira.
O evento teve uma programação diversificada. Segundo o comitê organizador, a proposta foi trazer para o evento um conjunto de iniciativas práticas de educação ambiental nas escolas e comercialização de alimentos e artesanatos com produtos locais, como a castanha, cacau e babaçu, como forma de incentivo à população a valorizar o município e se engajar ao movimento.
Na programação, se destacou a Mostra Cultural de cinco escolas públicas do município (EE Benício Trettel da Silva; EE Maria da Glória Vargas Ochôa; EM Paulo Freire; EM Santa Maria; Centro Educacional Municipal Pequeno Cidadão), com trabalhos de reciclagem, sobre os biomas do Mato Grosso, conservação de recursos hídricos e de mostras de 30 plantas utilizadas pelas comunidades indígenas e afro e suas propriedades, e culinária mato-grossense, entre outros temas. Alunos da EM 7 de Setembro, de Agrovila, foram ao palco apresentar a peça socioambiental “Deu a louca na Chapeuzinho” e estudantes da Benício Trettel , um pequeno musical sobre a atenção ao abandono na infância.
“Ao unir a mostra à campanha pudemos atrair jovens e adultos para conhecer essas ações de educação ambiental que já estão sendo desenvolvidas nas unidades de ensino. E na Sala do Educador (momento de capacitação dos professores) esse foi o tema deste ano”, explicou Laudinei Doerner, secretário municipal de Educação.
Agricultores familiares comercializaram seus produtos (castanha, mel, doces, polpa de frutas amazônicas, artesanatos…), e representantes do povo indígena Rikbaktsa da Terra Indígena Escondido venderam peças de seu artesanato (colares, pulseiras, anéis e prendedores de cabelo) com penas e sementes e fibras locais. “Foi bom podermos mostrar nosso trabalho aqui e com a campanha poderemos acompanhar e saber mais sobre o processo das políticas públicas na cidade”, disse o cacique Roseno Zokoba Rikbaktsa.
No centro do salão, o público pôde também conferir a mostra fotográfica “Juruena Eterno”, com seis fotos de Thiago Foresti, produzida pela Forest Comunicação, com apoio da Campanha, que traziam uma leitura sobre o principal rio da região, com sua gente, biodiversidade e ecossistema rico, que já começa a sofrer interferências em seu curso, com projetos de hidrelétricas. “Nossa família sempre vai pescar e passar tardes nas ilhas do Juruena. Ver estas imagens me remeteu à preocupação de se preservar este rio”, comentou Zenaide Cândido de Oliveira, que estava acompanhada por seus familiares.
A moradora Francisca Luiza da Silva Barros declamou duas poesias que fez em homenagem ao Juruena, que se transformaram também em marcadores de livros, como um estímulo à valorização da conservação das águas. “A Campanha possibilita que juntemos diferentes segmentos em um mesmo objetivo”, complementou.
Um “bazar do desapego” foi também promovido no salão, por integrantes do Instituto Centro de Vida (ICV) comercializando a valores baixos itens doados de vestuário a livros usados em boas condições. A proposta desse espaço foi de incentivar o consumo consciente e evitar o desperdício.
Os resíduos recicláveis gerados no evento foram coletados por José Carlos, representante da Associação de Reciclagem, Coleta e Serviços (Arcoser) de Cotriguaçu, cujo depósito fica localizado nas proximidades do terreno do aeroporto, onde ficava o antigo motor da Rede Cemat. No local, podem ser entregues itens recicláveis, desde papelão a plástico.
Rede de colaboração
Um processo colaborativo foi construído para o lançamento do evento. Na parte gastronômica do evento, houve apoios de algumas organizações e pessoas físicas, com doações ou cessão de uso de itens, desde alimentos a cadeiras. Entre os colaboradores, estavam a Distribuidora de Bebidas Cotriguaçu (com mesas e cadeiras), Padaria Tradição (torradas), Restaurante Paranaense e Supermercado Casa Nostra (pedaços de frango para o caldo), Sicredi (copos e guardanapos) e Supermercado Ribeiro (sacos de canjica). A Associação Espírita Lar das Orquídeas cedeu os cavaletes para a exposição fotográfica e a Rádio Comunitária Arco-Íris multiplicou a divulgação do lançamento. O ICV contribuiu com a faixa, logotipo e processo de construção e comunicação do evento.
Um grupo de moradores do município, que participou da organização do evento, também contribuiu com diferentes itens, desde pagamento de contribuição de gasto de energia à Paróquia a alimentos, itens de limpeza e destinados ao bazar, além de ajudar voluntariamente no dia do lançamento. Os colaboradores foram:
Adalberto Cazarim, Carolina Jordão, Ailton Amorim, Alisson Douglas, Carlos José, Denise Schutz Freitas, Dijeany Castanha, Edmilson Nascimento, Elisangela Sodré, Francisca Luiza da Silva Barros, Helena de Jesus Moreira, José Amorim, Manoel Arcanjo, Rose Santos, Sérgio da Silva, Solène Tricaud, Sucena Shkrada Resk, Suzanne Scaglia, Veridiana Vieira, entre outras pessoas.
A campanha está sendo apoiada pelo ICV, por meio do Projeto Cotriguaçu Sempre Verde – Fase 2, que busca consolidar uma nova trajetória de desenvolvimento municipal, pautada na construção de soluções sustentáveis de produção e governança socioambiental. O projeto iniciado em 2011 tem o apoio do Fundo Vale. A iniciativa recebeu o apoio da Prefeitura Municipal de Cotriguaçu, que esteve representada no lançamento pela prefeita Rosangela de Nervis, e tem a parceria da Secretaria Municipal da Educação e apoio da ONF-Brasil, no Concurso Fotográfico “Meu olhar sobre o Juruena e seus Afluentes”.