Comunidades unem-se para celebrar a existência do Rio Juruena enquanto ameaças de empreendimentos hidrelétricos preocupam a diversidade ambiental e cultural da região.
No coração da bacia do Juruena, uma data especial é celebrada por povos indígenas, comunidades rurais e urbanas, unidos em um esforço conjunto para proteger e homenagear um dos mais valiosos tesouros naturais da região: o Rio Juruena. Desde 2019, o dia 15 de agosto marca o Dia do Rio Juruena, uma data que une forças na defesa e valorização desse corpo d’água vital.
A origem da data
A celebração do Dia do Rio Juruena nasceu em 2019, durante um evento organizado pela Rede Juruena Vivo (RJV), o Festival Juruena Vivo, realizado na comunidade Pedreira, em Juara, Mato Grosso. Reunindo agricultores familiares, entidades da sociedade civil, povos indígenas, movimentos sociais e organizações que vivem ou atuam na região, o festival teve um propósito fundamental: promover discussões e ações para proteger e preservar o rio que desempenha um papel crucial na vida de todos os habitantes da região.
Composta por agricultores familiares, povos indígenas, movimentos sociais e urbanos, a RJV atua na defesa da bacia hidrográfica do Juruena e na promoção de sua importância cultural e ambiental. A data escolhida para a celebração, 15 de agosto, é estrategicamente pensada para coincidir com a temporada de praia e florada dos ipês, proporcionando um cenário propício para reunir os participantes às margens do rio. A inspiração para a criação da data veio dos movimentos populares do rio Paraguai, onde estratégias de defesa e proteção das bacias hidrográficas foram debatidas durante o Fórum Mundial da Água, em 2018.
Desde 2019, quando foi criado o Dia do Rio Juruena, a RJV promove campanhas informativas e atividades de valorização e conscientização de cuidado e preservação das águas do Juruena e de toda a bacia.
Ameaças à diversidade ambiental e cultural do Juruena
Mesmo diante da rica união de esforços, o Rio Juruena enfrenta sérias ameaças. Estão previstos para a bacia mais de 180 empreendimentos hidrelétricos que colocam em risco a diversidade ambiental e cultural da região. Esses projetos, além de não considerarem os impactos cumulativos nas mudanças do fluxo natural das águas, ameaçam a sobrevivência de ecossistemas aquáticos e a rica biodiversidade que caracteriza o território.
A quebra de conexão dos rios e a alteração do fluxo natural das águas são apenas algumas das consequências que poderiam resultar das hidrelétricas. Além disso, as populações indígenas e tradicionais, cujas vidas estão intrinsecamente ligadas ao rio, enfrentam a perspectiva de perda de suas tradições e modos de subsistência.
Pássaros raros como a arara-azul e o gavião-real, que habitam as florestas às margens do Juruena, correm risco de serem extintos na região.
Tesouros naturais e biodiversidade única
Apesar das ameaças, o Rio Juruena exibe uma riqueza inigualável. Suas águas sustentam comunidades, fornecendo abastecimento, alimento e lazer. A região é palco de praias paradisíacas onde banhistas desfrutam das águas cristalinas, e suas florestas abrigam uma vasta gama de espécies, desde os majestosos ipês que embelezam suas margens até a diversidade de peixes que povoam suas águas. Mais do que um recurso natural, o Rio Juruena é uma entidade viva, interconectada com a cultura e a vida das pessoas que dependem de suas águas.
Para as comunidades que dependem do rio Juruena, ele é muito mais do que uma fonte de água. É um lar, um meio de subsistência, um local de rituais culturais e um símbolo de identidade. Ao longo dos anos, o rio se tornou uma parte fundamental da vida diária das pessoas, fornecendo água para beber, alimentos através da pesca, e servindo como via de transporte e ponto de encontro.
À medida que o Dia do Rio Juruena é celebrado anualmente, essa data se torna um lembrete poderoso da importância de proteger e preservar esse tesouro natural para as gerações presentes e futuras. Por meio da colaboração entre comunidades tradicionais, ambientalistas e sociedade em geral, espera-se que o Rio Juruena continue fluindo, enriquecendo a vida de todos os que dependem de suas águas e exemplificando a harmonia entre a natureza e a cultura.
Por Larissa Silva/ RJV
