Manifesto da décima edição organizou os debates dos quatro dias de atividade, enfatiza as ameaças sobre a usina de Castanheira e reforça a necessidade de manter os rios da bacia do Juruena vivos e livres de barragens e invasões.
O Festival Juruena Vivo encerrou suas atividades, nesta quarta-feira (8), com manifestações no município de Juara, em Mato Grosso, para posicionar a necessidade da valorização da vida, na região da bacia do rio Juruena. O documento final do encontro, que marcou 10 anos de mobilização popular da Rede Juruena Vivo, foi entregue para representantes da Câmara Municipal de Juara e encaminhado para a Prefeitura do município e para os Ministérios Públicos Federal e Estadual.
“Nos manifestamos contra os projetos de hidrelétricas na Bacia do Juruena, levantados aproximadamente 180 projetos, com destaque para a UHE Castanheira, UHE Juruena e UHE Mato Grosso, apresentados como falsas soluções para a crise climática e transição energética, mas que destroem a vida de nossos rios e colocam em risco a soberania alimentar e reprodução cultural dos povos”, reforça o manifesto sobre as centenas de projetos e ações que ameaçam de forma constante os direitos humanos e ambientais, na região.
A edição histórica do festival mobilizou cerca de 400 pessoas, entre os dias 4 e 8 de novembro, na Aldeia Nova Munduruku, Terra Indígena Apiaká/Kayabi, localizada no município de Juara, em MT. Movimentos sociais, comunidades, coletivos e povos indígenas estiveram reunidos para fortalecer as lutas dos povos que vivem na Bacia do Juruena. Com o lema “Conectando territórios e somando lutas para o Bem Viver”, o festival promoveu a reflexão dessa última década de mobilizações e apontou os próximos passos de resistência aos projetos que afetam os territórios, modos de vida tradicionais, cosmovisão e direitos, no Juruena.
O festival levou para as ruas de Juara a informação sobre os impactos dos projetos hidrelétricos previstos para a bacia do Juruena, com destaque para a hidrelétrica de Castanheira, prevista para ser instalada, no Rio Arinos, que integra a bacia do Juruena. Comunidades e povos que são diretamente impactados pelo projeto da UHE Castanheira estiveram presentes no ato para ressaltar a necessidade da União pela proteção da vida.
As percepções e adaptações dos povos e comunidades às transformações do tempo foram discutidas durante o evento. “Não é papel apenas dos povos indígenas e comunidades tradicionais frear a crise climática e sim o papel de todos. Nós povos da floresta somos os que mais sofrem com os impactos das mudanças do clima e os que mais preservam a biodiversidade e as florestas. É papel do Estado pensar em políticas públicas que permitam a autonomia dos povos indígenas e tradicionais no enfrentamento às mudanças climáticas como, por exemplo, a construção de seus planos de enfrentamento à crise climática e o reflorestamento de áreas degradadas ao longo da bacia do rio Juruena”, ressalta o manifesto.
A feira de saberes e sabores, a troca de sementes, apresentações culturais, os artesanatos, a agenda esportiva e um desfile cultural indígena marcam os dias de programação do Festival. “A juventude e as mulheres da Bacia do Juruena entendem que a participação nesse espaço é importante para a formação de lideranças futuras, inspiradas pelas lideranças, comunicadores, artistas e cineastas indígenas. Reivindicam o apoio para a garantia plena da educação em todos os níveis, até a graduação e pós-graduação. Com toda a rede, acreditam que a comunicação feita nas bases é instrumento para a proteção dos territórios e divulgação das culturas que são ricas na bacia do Juruena, sendo um potente instrumento de luta dentro do movimento”.
A Rede Juruena Vivo tem promovido o monitoramento constante das ameaças que existem na região para poder informar, formar e organizar maneiras de resistir ao cenário de morte. “Nessa caminhada conseguimos frear o avanço de vários desses projetos de morte por meio da luta, do desenvolvimento do nosso monitoramento territorial com sistemas de alertas e da comunicação popular. Alcançamos espaços para alçar nossas pautas a nível regional, nacional e internacional. Esse trabalho resulta na proteção dos territórios e fortalecimento das comunidades que compõem a Rede Juruena Vivo, tendo suas vozes ecoando mundialmente. Finalizamos a 10ª Edição do Festival Juruena Vivo revigorados e revigoradas para a luta, através do reconhecimento das vitórias ao longo dessa década de caminhada coletiva”.
Fotos abaixo: Larissa Silva/Rede Juruena Vivo | Puré Juma/COIAB | Daniella Alvarenga/MAB | Caio Mota/Coletivo Proteja Amazônia