Marta Tipuici, da etnia Manoki, abre nesta quinta-feira, 9 de maio, o evento “Hidrelétrica, mudança climática e os objetivos de desenvolvimento sustentável”* na capital da Alemanha. A conferência, organizada pela organização não governamental alemã Gegenstromung, coloca em discussão os efeitos econômicos, sociais e ambientais das hidrelétricas e pretende endereçar questões e alertas para o Congresso Mundial de Hidrelétricas, que acontecerá em Paris de 14 a 16 de maio.
Em sua apresentação, Marta Tipuici falou sobre o impacto das hidrelétricas para os povos indígenas. Ela é representante da Rede Juruena Vivo (RJV), que atua por alternativas de desenvolvimento na sub-bacia do Juruena, no noroeste do estado de Mato Grosso. Um levantamento, realizado pela Operação Amazônia Nativa para a RJV em 2019, identificou 138 usinas na bacia do juruena, sendo que dessas 32 estão em operação, 10 em construção e 96 em fase de planejamento**.
“São as hidrelétricas, em especial as micro e pequenas usinas espalhadas pela bacia do Juruena, que sustentam a produção de muitas empresas produtoras de grãos para exportação. Nossos parceiros na Europa têm um papel fundamental em alertar compradores e investidores sobre os impactos sofridos pelos povos indígenas”, declarou a jovem indígena.
Para além de Marta Tipuici, Andreia Fanzeres, da Operação Amazônia Nativa, organização indigenista que atua em Mato Grosso e Amazonas, também participa do evento, discutindo hidrelétricas e direitos humanos. A mesa composta por ela e representantes de outros países aborda os limites entre crescimento econômico e as consequências sociais dos empreendimentos.
Fanzeres é uma das responsáveis pelo levantamento das usinas no Juruena e enfatiza que um grandes dos desafios é o acesso a informações: “apesar de algumas melhorias no sistema de transparência das informações ambientais no estado, ainda há muito o que ser aprimorado quanto aos dados sobre empreendimentos que estão sendo autorizados ou estão operando. Qualquer pessoa deveria conseguir acessar facilmente essas informações, saber o que está sendo planejado para sua localidade e poder participar dos processos que, no final, vão definir o desenvolvimento regional.”
A conferência contou com representantes do Brasil, Colômbia, Myanmar, cientistas, representantes da indústria e organizações não governamentais da Alemanha. Segundo Heike Drillish, da ONG GegenStromung, que organiza o evento, apesar dos impactos das hidrelétricas serem conhecidos desde os anos 80, na Europa muitas pessoas ainda acreditam que as usinas hidrelétricas são uma opção limpa para geração de energia no contexto das mudanças climáticas. Foram esta e outras questões, como os efeitos das usinas sobre as mudanças climáticas e as alternativas sustentáveis de geração de energia, que estiveram em debate.
“Este é um espaço de diálogo com outros movimentos de países diferentes, e que trazem experiências importantes nesse cenário de retirada de direitos e mudanças climáticas”, afirmou Marta Tipuici.
*Hydropower, Climate Change and the Sustainable Development Goals
**Esse levantamento é fruto de um esforço para obtenção de informações sobre os empreendimentos de infraestrutura no Juruena e há um grau de incerteza de aproximadamente 15% em virtude de problemas na transparência das informações públicas sobre licenciamento ambiental em mato grosso.
Lívia Alcântara