“O professor falou da oficina de comunicação na escola e eu sou apaixonada por mexer com câmera, gravar com o celular. Tinha um monte de gente querendo participar, fizemos um sorteio e caiu o meu nome”, conta Aline Janaína, 15 anos, da etnia Manoki.
Aline vive na aldeia Cravari, perto do município de Brasnorte (MT) e é parte da turma de 25 indígenas que participam das formações em comunicação, no noroeste de Mato Grosso, oferecidas pelo Projeto Berço das Águas, patrocinadas pela Petrobras Socioambiental e pelo Governo Federal.
Dois módulos do curso já foram concluídos, um focado no uso das redes sociais e outro na produção de jornal. A última etapa, de audiovisual, acontecerá em junho deste ano. Em cada encontro, durante três dias, os participantes têm acesso a técnicas de comunicação e são desafiados a produzirem posts para as redes sociais, jornais e vídeos a partir de suas realidades.
Márcio Jorfi Siraun, 30 anos, professor da Escola Estadual Indígena de Educação Básica Juporijup da aldeia Tatuí, Terra Indígena Kayabi Apiaká, conta que a oficina o ensinou a postar fotos nas redes, a usar as hashtags e também a ser crítico com o que se lê: “aprendemos, nesta etapa de jornalismo, a pesquisar a fonte de informação. Não pegar qualquer coisa e ler sem saber de onde vem”. Aline, assim como Márcio, não cai mais em fake news: “tem que pesquisar antes, olhar a data de quando foi publicado, se é real a postagem. Eu não compartilho mais coisas que eu não sei de onde vem”, conta ela.
Outro participante, Rogederson Natsitsabui Rikbakta, 25 anos, da etnia Rikbaktsa, está terminando um curso profissionalizante de técnico em meio ambiente. Ele explica que não teve dificuldade com a tecnologia em si, porque está acostumado com o celular, mas escrever foi um desafio: “eu me interessei em falar sobre as usinas hidrelétricas porque é uma preocupação que está afetando muito a gente aqui. Dar a opinião foi fácil, mas na hora de organizar o texto, de digitar, foi a dificuldade”. Sua percepção sobre o que é um jornal foi completamente alterada. Antes da oficina de jornalismo ele achava que jornal era tudo igual: “ao longo do curso eu percebi que tem entrevista, notícia, reportagem, muitos formatos jornalísticos dentro de um jornal”.
Além dos jovens indígenas, outros integrantes da Rede Juruena Vivo também participam das oficinas. A Rede reúne agricultores familiares, movimentos sociais, ONGs, poder público, pesquisadores, coletivos e estudantes da região da bacia do Juruena preocupados com o desenvolvimento sustentável da região.
O objetivo das oficinas é que os comunicadores populares possam assumir a alimentação dos canais da Rede Juruena Vivo (Site, Facebook e Twitter) e compartilhar ali suas realidades locais. Valdeilson Jolasi, 21 anos, do povo indígena Manoki, entende que este objetivo já está sendo cumprido: “a oficina está me ajudando a divulgar a cultura do meu povo e a luta dos povos indígenas”.
Cobertura audiovisual do V Festival Juruena Vivo. Foto: Lívia Alcântara/OPAN.
Lívia Alcântara