O grito pela sobrevivência dos povos que vivem às margens do Rio Teles Pires

A exploração do potencial de geração de energia hidrelétrica do rio Teles Pires representa uma enorme ameaça às populações que sobrevivem diretamente da biodiversidade do rios e suas matas: “O governo não vê que somos humanos”, diz o povo Munduruku.

“Tá mudando muito. Cada dia que passa, muda mais e mais. As florestas e os rios são as nossas vidas, isso não pode acontecer”. A frase foi de Cândido, representante do povo Munduruku, durante um debate que sucedeu a exibição do filme “Complexo”, que retrata o modo de vida de vários povos que vivem às margens do Rio Teles Pires, na sub-bacia do Rio Tapajós.

Cândido Munduruku ilustrou perfeitamente aquilo que é mostrado no documentário: a exploração do potencial de geração de energia hidrelétrica do rio Teles Pires representa uma enorme ameaça às populações que sobrevivem diretamente da biodiversidade dos rios e matas: “O governo não vê que somos humanos”, concluiu Cândido, com olhos lacrimejando.

A revolta dos Munduruku, na opinião de Francisco Machado, representante do Ministério Público Estadual do Mato Grosso (MPE-MT) presente no debate, se justifica justamente pela atuação irresponsável dos governos: “Em nome do povo, os idiotas do governo fazem canalhices, cometem absurdos. Tudo em nosso nome”.

O cacique Manoel Kaninxi, do povo Manoki, fez um apelo: “Os brancos, os não-índios, todos precisam somar na luta pela preservação do rio Teles Pires. Não podemos gritar sozinhos. Estamos lutando muito e precisamos de ajuda. É o momento de barrar hidrelétricas e madeireiras. Brancos, nos escutem”.

Foto: João Miranda/Revista VaiDaPé
Foto: João Miranda/Revista VaiDaPé

O professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Maurício Torres, fez questão de relembrar uma mobilização indígena que deu conta de frear um grande projeto. “A construção do Complexo Hidrelétrico São Luís do Tapajós foi suspensa após um grande ato. Os Munduruku foram até a terra dos Kayapó, lá em Belo Monte, para interromper a maior obra do país até que o projeto que os afetaria fosse cancelado. Deu certo”, comemorou.

Brent Millikan, da ONG International Rivers, ponderou: “É hora dos governos perceberem que não se pode definir a localidade de uma usina hidrelétrica apenas pelo seu potencial energético. É preciso medir os impactos e respeitar os povos”. No que depender do grito dos povos do Teles Pires, vai ter luta. Por respeito e, principalmente, pela vida.

Fonte: Revista VaiDaPé

Por Paulo Motoryn / Fotos de João Miranda

Rede Juruena Vivo Somos uma rede composta por indígenas, agricultores familiares, pesquisadores, entidades da sociedade civil, movimentos sociais urbanos e rurais, entre outros que atuam na bacia do rio Juruena (MT).